Notre-Dame resurge das cinzas. Conheça dados históricos até o incêndio

A operação desmonte deve durar meses

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Andaimes de Notre-Dame começam a ser desmontados

Os andaimes instalados para a restauração da torre de Notre-Dame, instalados antes do incêndio, começaram a ser removidos. A operação deve durar meses e passou por um planejamento cuidadoso.
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Um dos mais belos, históricos e sagrados templos católicos do mundo e uma basílica das mais visitadas por turistas mundiais, vai em breve abrir sua majestosas portas para todos.

A história de Notre-Dame, a catedral mais famosa do mundo, que arde em chamas
Edifício construído há mais de 800 anos foi palco de alguns dos acontecimentos mais significantes da história francesa e se tornou símbolo das artes

TNM/Por Ariel Palácios e Daniel Salgado
Catedral de Notre-Dame, em Paris, pega fogo na manhã desta segunda-feira Foto: Pierre Suu / Getty Images
Catedral de Notre-Dame, em Paris, pega fogo na manhã desta segunda-feira Foto: Pierre Suu / Getty Images

Nesta segunda-feira (5), o mundo observou em choque a catedral de Notre-Dame, em Paris, ser tomada pelas chamas de um incêndio ainda não explicado. Um dos maiores símbolos da França e um dos monumentos mais famosos do mundo, parte do edifício veio abaixo, com suas icônicas torres implodindo e incontáveis vitrais, altares e outras obras de seu estilo gótico sendo tomados pelo fogo.

As chamas tomaram o edifício histórico por volta das 18h50, horário local (13h50 de Brasília). Segundo os bombeiros parisienses, o incêndio provavelmente está relacionado a grandes reformas que eram feitas para a restauração da catedral. A procuradoria francesa já abriu uma investigação para determinar o que iniciou o fogo.

ÉPOCA reuniu uma série de fatos e curiosidades que mostram a importância na vida política, artística e religiosa de Notre-Dame para a história francesa e de toda a Europa.

CONSTRUÇÃO ATRIBULADA
Com mais de 850 anos, a Catedral de Notre-Dame é um dos símbolos de Paris desde sua construção. Proposta pelo rei Luís XVII e pelo bispo Maurice de Sully, a igreja teve sua pedra fundamental lançada em 1163 e só foi oficialmente completada em 1345, quase dois séculos depois.
Idealizada como símbolo da importância crescente de Paris na vida francesa — e europeia —, a Notre-Dame não foi o primeiro templo religioso a ocupar o coração da Île de la Cité, no que hoje é o quarto arrondissement da cidade. Nos tempos romanos, o local fora ocupado por um templo pagão, que foi subsequentemente demolido para a construção de duas basílicas.

Desde sua construção, porém, a catedral de 128 metros de altura e 48 de largura se tornou um símbolo universalmente conhecido de Paris e da França como um todo. Não à toa, é o monumento histórico mais visitado da Europa, recebendo 12 milhões de visitantes anualmente.
A catedral foi amplamente celebrada pelos parisienses em 1963, quando completou 800 anos. Como é possível ver neste vídeo gravado na ocasião, o monumento passou por um largo trabalho de restauração na década de 60, que culminou nas festividades. Ele fez parte de uma série de renovações propostas pelo então ministro da cultura, André Malraux um dos muitos escritores e artistas que fizeram parte da história da catedral.

O CORAÇÃO DE PARIS
Mais do que o coração simbólico de Paris, a Notre-Dame é também o literal centro da cidade. É logo em frente à imponente catedral que fica, discreto e ao rés do chão, o marco zero de todas as estradas da França. Ou seja, é a partir daquele ponto que todas as distâncias no território francês são medidas.
Uma ilustração mostrando a Catedral de Notre-Dame em 1857 Foto: Kean Collection / Getty Images
Uma ilustração mostrando a Catedral de Notre-Dame em 1857 Foto: Kean Collection / Getty Images

SÍMBOLO DE UMA FRANÇA PASSADA
Tomada por chamas nesta segunda-feira (15), a catedral parecia indestrutível. Ainda assim, não foram poucas as vezes em que ela esteve em perigos reais de ir ao chão, tanto por ação direta dos homens quanto pela ação do tempo permitida pelo descaso das autoridades.

A cidade de Paris muitas vezes esteve no coração de transformações políticas e guerras mundiais ao longo dos últimos séculos, e a catedral não foi estranha a esses momentos. Na Revolução Francesa, por exemplo, as forças revolucionárias destruíram muitas estátuas e imagens no templo que remetessem ao catolicismo e à monarquia, dois dos inimigos do ideal iluminista da época. A Notre-Dame chegou, inclusive, a ser confiscada da Igreja Católica e utilizada como centro para celebrações irreligiosas do regime, como o chamado Culto da Razão e o Culto do Ser Supremo, estabelecido por Robespierre.
A catedral só voltou ao comando do Vaticano com o fim do processo revolucionário, quando Napoleão Bonaparte a devolveu à Igreja Católica e fez uma série de renovações no local, então quase abandonado. Foi lá, inclusive, que o general corso se consagrou imperador da França, dando ponto final à Revolução. E falando em realeza, foi lá, no auge da Guerra dos Cem Anos entre os gauleses e a Inglaterra, que o inglês Henrique VI se proclamou como rei dos franceses. Um evento traumático, a coroação dos estrangeiros não foi bem aceita e a guerra não acabou como o planejado, com Carlos VII assumindo o trono em Paris no fim das contas.

Vista da catedral de Notre-Dame pelo Rio Sena, em 1970 Foto: Bill Ray / The LIFE Picture Collection/Gett

Vista da catedral de Notre-Dame pelo Rio Sena, em 1970 Foto: Bill Ray / The LIFE Picture Collection/Gett

VICTOR HUGO E SUAS GÁRGULAS
Apesar das renovações promovidas por Napoleão, a catedral continuou em estado de deterioração profundo por algumas décadas. E foi isso que levou o escritor Victor Hugo, um dos maiores nomes da literatura francesa, a fazer uma campanha pela renovação da Notre-Dame.
Um dos homens mais influentes na sociedade francesa de seu tempo, Hugo chegou a escrever um livro em homenagem ao edifício, aptamente chamado de Notre-Dame de Paris e que ficou mais conhecido em outros países pelo título de O Corcunda de Notre-Dame. O livro foi muito bem-sucedido em recapturar a imaginação e atenção dos franceses para a catedral quase abandonada, seus vitrais e suas gárgulas, culminando em um novo esforço de restaurações. Foi dessa fase de reconstrução que a catedral tomou o aspecto com que ficou conhecida até hoje.
As gárgulas empoleiradas na catedral se tornaram um dos maiores símbolos de Notre-Dame Foto: General Photographic Agency / Getty Images
As gárgulas empoleiradas na catedral se tornaram um dos maiores símbolos de Notre-Dame Foto: General Photographic Agency / Getty Images

NOVAS AMEAÇAS
A história da catedral — e da França — não pararam por aí. Basta lembrar que, depois de Victor Hugo, Paris ainda viveu uma série de momentos-chave nos séculos seguintes. Ela foi um dos principais palcos de eventos como a Comuna de Paris, a guerra franco-prussiana, a primeira e a segunda Guerras Mundiais e até mesmo as revoluções culturais de 1968.

Apesar disso, desde então a Notre-Dame havia sido preservada e renovada até os dias de hoje, mantendo sua imponência como um dos cartões postais da cidade luz.

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