Rússia testa míssil em região disputada com os EUA no Pacífico

O míssil Kh-35 foi lançado da mais recente corveta russa, a Aldar Tsindenjapov, que está em testes para entrar em operação na Frota do Pacífico no fim do ano.

TNM/Folhapress Ilustração

Um dia depois que um navio de guerra russo quase atingiu um destróier americano no Pacífico, Moscou testou um poderoso míssil de cruzeiro destinado a operações navais na região em que o incidente ocorreu.

O míssil Kh-35 foi lançado da mais recente corveta russa, a Aldar Tsindenjapov, que está em testes para entrar em operação na Frota do Pacífico no fim do ano.

Ele atingiu um alvo a 40 km do ponto de disparo na baía de Pedro o Grande, que banha o território Litorâneo, região do extremo oriente russo em que fica a cidade de Vladivostok –que sedia a frota.

Na terça, o destróier americano USS John S. McCain entrou nas águas da baía durante uma patrulha no mar do Japão. Segundo o Comando do Pacífico dos EUA disse em nota, ele desenvolvia uma operação de liberdade de navegação contra “as excessivas demandas territoriais russas”.

Usual na disputa entre a China e os EUA pelas águas em torno do país asiático, essa é uma ação na qual um navio de guerra transita por águas que seu país considera internacionais e o adversário, territoriais suas.

Esse tipo de intrusão envolvendo áreas russas é raro. Segundo sites de monitoramento de navegação, o destróier avançou cerca de 2 km dentro da baía, sendo aí interceptado pelo russo Almirante Vinogradov, um navio da mesma classe.

O que ocorreu então foi uma cinematográfica ameaça de abalroamento por parte do capitão russo, que manobrou seu navio para cima do adversário, obrigando-o a mudar de rota e deixar a baía.

Incidentes semelhantes já haviam acontecido, inclusive um envolvendo o próprio destróier russo em 2019, mas não em águas consideras russas pelo Kremlin. A região foi reclamada por Moscou ainda nos tempos soviéticos, em 1984, quando Vladivostok era uma cidade militarizada e de acesso restrito.

Hoje, é uma vibrante cidade com um cosmopolitismo asiático marcado, com mais restaurantes coreanos ou japoneses do que russos, mas ainda guarda grande importância militar.
Ao disparar o míssil logo após o incidente, a Rússia busca estabelecer um limite com menos sutileza do que as manobras militares chinesas nas águas próximas.

O “timing”, com a chegada de Joe Biden à Casa Branca, também importa: o democrata é visto como mais duro do que Donald Trump com os russos, que têm rixas abertas com os EUA em temas como a Ucrânia e negociações como a do tratado de controle de armas nucleares pendentes.

O míssil Uran, de desenho soviético mas que só entrou em serviço em 2003, é uma das principais armas antinavio das Forças Armadas russas. Ele carrega uma ogiva de 145 kg por até 300 km, voando com auxílio de radar a meros 10 metros da água.

Já a corveta que o lançou é considerada uma das mais modernas do arsenal do Kremlin, e irá operar exatamente na área contestada. Ela é a terceira da classe Steregushchi a ser entregue à Frota do Pacífico. Corvetas são navios menores do que fragatas, que por sua vez são menores que destróieres.

O John S. McCain segue no mar do Japão, antes de voltar à sua base japonesa em Yokosuka.

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