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TNM/Por JB INTERNACIONAL com Reuters
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Veronica Duterte, a filha mais nova do ex-líder, disse no Instagram que ele embarcou no avião, mas a família não foi informada de seu destino, acompanhando a postagem com uma foto de um pequeno ônibus em um aeródromo.
“Eles tiraram o pai de nós, colocaram-no em um avião e não disseram para onde. Pessoas, acordem”, postou ela.
A ABS-CBN News postou um vídeo no X de Duterte embarcando em um jato em um aeródromo de Manila e o jornal “Philippine Star” disse no X que recebeu a confirmação de um alto funcionário da polícia de que o voo tinha como destino Haia, onde o TPI está sediado.
A polícia não respondeu imediatamente a um pedido de confirmação da Reuters.
Duterte, o “independente” que liderou as Filipinas de 2016 a 2022, foi preso em um aeroporto de Manila ao chegar de Hong Kong na manhã desta terça-feira, em um passo importante na investigação do TPI sobre milhares de assassinatos em uma repressão antidrogas que definiu sua presidência.
A “guerra às drogas” foi a plataforma de campanha de Duterte que o levou ao poder e ele logo cumpriu as promessas que fez durante discursos mordazes, de matar milhares de traficantes e usuários de drogas.
Em Haia ele pode se tornar o primeiro ex-chefe de Estado da Ásia a ir a julgamento no TPI.
Duterte há muito insiste que instruiu a polícia a matar apenas em legítima defesa, e defendeu a repressão, dizendo repetidamente a seus apoiadores que estava pronto para “apodrecer na prisão”, se isso significasse livrar as Filipinas das drogas.
Sua prisão segue anos dele repreendendo e insultando o TPI desde que retirou unilateralmente as Filipinas do tratado fundador do tribunal em 2019, quando começou a investigar alegações de assassinatos sistemáticos de traficantes de drogas sob sua supervisão.
O TPI, um tribunal de último recurso, está investigando supostos crimes contra a humanidade e diz que tem jurisdição para investigar supostos crimes ocorridos enquanto um país era membro.
Duterte e sua família e aliados disseram nesta terça-feira que a prisão foi ilegal e que o tribunal não tem jurisdição.
Duterte e Bolsonaro: os irmãos siameses da extrema direita
Para cientista política filipina, há muito em comum na ascensão de governos autoritários nas Filipinas e no Brasil
Por Lu Sodré, do Brasil de Fato: Defesa dos cidadãos de bem, discursos que exaltam a violência, perseguição a ativistas dos direitos humanos, populismo, militância virtual radicalizada, proximidade com militares, medidas econômicas neoliberais, filhos na política e um governo que acumula denúncias de corrupção.
Apesar das similaridades e de ser o primeiro nome que provavelmente vem à mente, Jair Bolsonaro não é o único presidente de extrema direita com tais características. Esses são também os principais elementos que marcam a trajetória de Rodrigo Duterte, presidente das Filipinas, no Sudeste Asiático, no poder desde 2016.
Assim como o capitão reformado, Duterte ocupou cargos políticos por décadas e, sem que especialistas, pesquisadores e setores tradicionais da direita esperassem, chegou ao cargo mais alto do país com discursos punitivista e o apoio de parcela considerável da população.
Relembre: Ex-assessor de Trump, guru da extrema direita Steve Bannon é preso acusado de fraude
Segundo a filipina Cecilia Lero, cientista política pela Universidade de Notre Dame e pós-doutoranda no Centro de Estudos da Metrópole da Universidade de São Paulo (USP), o modus operandi autoritário de Duterte e Bolsonaro é o mesmo, alvo de duras críticas da comunidade internacional.
Em entrevista ao Brasil de Fato, a pesquisadora descreve o atual contexto político das Filipinas e traça paralelos entre a ascensão da extrema direita nos dois países.
“A campanha [de Duterte] foi muito similar à de Bolsonaro. ‘Vamos tirar os políticos antigos, todos são corruptos, não fazem nada. Sou diferente porque falo o que penso’. Muito similar a Trump. Direitos para o cidadão de bem. Fala que ONGs e militantes de direitos humanos só se preocupam com criminosos e não com suas vítimas. Fala que nós, que nos importamos com direitos humanos, somos obstáculos ao desenvolvimento das Filipinas porque não deixamos ele fazer o que é necessário para ‘limpar o país’”, conta Lero.
Desde o início de seu governo, Duterte tem causado choque por ordenar milhares de assassinatos em nome da “guerra contra as drogas”, sua principal bandeira.
Em 2019, durante conferência do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, os europeus pediram a abertura de investigação internacional contra as políticas de execução de Duterte, que já havia, então, vitimado 27 mil pessoas. A resolução foi aprovada por 18 votos a favor e 14 contra, com abstenção do Brasil.
“Ele se elegeu dizendo: ‘Vou matar todas as pessoas de mal. Todos os viciados e traficantes.’ Durante a campanha, disse que quando fosse eleito, a Baía da Manila seria vermelha de sangue dos ‘criminosos vagabundos’”, lembra a pesquisadora.
Ainda de acordo com a cientista política, o favorecimento ao capital financeiro internacional, um nacionalismo oportunista e proximidade com os militares também são elementos compartilhados pelos presidentes. Assim como a tentativa de atenuar os impactos da pandemia do novo coronavírus no início da pandemia e a ausência de insumos para a área da saúde. Conforme monitoramento da Universidade Johns Hopkins, mais de 378 mil pessoas foram infectadas pela covid-19 nas Filipinas, até o final de outubro, com mais de sete mil mortes mortes. (Texto publicado em 01/11/2020)