Enio Lins
(1933/1939) foi um intervalo social no pensamento liberal, com o governo Franklin Roosevelt intervindo na economia estadunidense para evitar a destruição das suas classes médias e da sua burguesia de menor porte, que estavam ambas – e a maioria do povo norte-americano – sob insuportável esmagamento causado pelo cataclisma financeiro de 1929. Em 2025, faltando apenas quatro anos para completar um século do maior tropeço mobiliário do capitalismo mundial, e a 80 anos da derrota no nazifascismo, Trump quer quebrar o resto do globo para restaurar a opulência solitária dos milionários ianques.
ENGANA-SE QUEM PENSA ser pura maluquice a estratégia trumpista. Tem objetivo e método: é o big stick, de Theodore Roosevelt, em formato big techs; ou a Doutrina Monroe reescrita por Steve Bannon. Objetiva detonar a atual ordem mundial que cede (cedia) alguns espaços às negociações multilaterais – onde grupos de países conseguem condições mais vantajosas – para impor transações bilaterais onde os Estados Unidos, naturalmente, impõem suas regras e levam a parte do leão, da leoa, dos bacurinhos e das hienas. Trump é a expressão legítima da desfaçatez de quem tem os dentes mais afiados, quer tudo para si, no velho modelo imperialista, sem essas conversas-moles de “liberdade de mercado”, “Estado não-intervencionista”, “multilateralismo capitalista”, “nações amigas”, “mundo livre” etc. É o entendimento redivivo de Sir Francis Drake (1540/1596) sobre o “livre comércio” em pleno século XXI.
CHORAM OS CRENTES no livre-mercado. No Estadão: “China não é santa no comércio, mas Trump faz liberalismo econômico passar vergonha”, “Tarifaço de Trump encerra o século americano e inicia o século chinês”, “Pausa em tarifa afasta temor de recessão”. N’O Globo: “Tarifaço de Trump vai implodir as cadeias produtivas globais e gerar inflação com estagnação”. Na Folha: “Trump assina decreto sobre pressão de água e diz que leva 15 minutos para molhar [seus] ‘lindos cabelos’”. Donald, em verdade, repete a estratégia de inundar a mídia com atos estapafúrdios, declarações bombásticas e patéticas, atraindo toda atenção para si, e – nesse carnaval de impropérios – vai definindo os passos que realmente serão dados. O fato é que ele desmoraliza mitologias sobre o liberalismo econômico e sobre o “intangível caráter democrático” dos Estados Unidos. Assume-se como argentário, autoritário, reacionário, ordinário, hilário, temerário e quer fazer de otário o resto do planeta. Diz ele que o mundo está lhe beijando a bunda por acordos comerciais. Pois é, vamos ver o que o mundo, ao fim e ao cabo, fará com o traseiro de Donald.