Um dos momentos mais dramáticos do documentário é quando você fala da morte da sua mãe e revela que não foi no enterro porque estava dormindo alcoolizado. Você se arrepende disso? É engraçado, porque a minha mãe tinha um ótimo senso de humor. E ela também tinha uma espécie de apreciação profunda pelo absurdo. Acho que ela poderia pensar que foi triste e até estar com raiva de mim por tudo isso. Mas eu também acho que tem uma parte dela que acharia meio engraçado e absurdo que seu único filho estava bêbado e de ressaca para ir ao funeral. Estranhamente, acho que ela poderia ter tido uma reação normal a isso.
Você é ativista vegano e também já criticou o desmatamento da Amazônia. Como vê o desempenho do governo brasileiro nesta área? Não sou brasileiro. Portanto, não tenho uma opinião muito forte. Tudo o que posso dizer é que Donald Trump foi, sem dúvida, o pior presidente dos Estados Unidos da história. Ignorante, incompetente, sem preocupação com o meio ambiente, sem preocupação com a ciência. Tudo o que posso dizer é que Bolsonaro, definitivamente, é a versão brasileira de Donald Trump. Eles são ignorantes em relação à ciência e em relação a fatos básicos. Bolsonaro e Trump são tão narcisistas que eles pensam que sua opinião é mais forte que a ciência. Mas isso é apenas um nível de insanidade e ignorância que não consigo nem entender.
Em seu novo álbum, Reprise, você convidou artistas de diferentes estilos musicais para reinterpretar suas músicas, como Kris Kristofferson, do country, e Gregory Porter, do jazz. Você se vê apenas como um DJ ou se enxerga como um músico completo? Quando eu era muito, muito jovem, tive uma formação musical bem estranha. Minha mãe amava John Coltrane. Então eu cresci, e adorei o punk-rock, mas também me amarrei na disco music. E eu adorava música clássica, mas também a eletrônica. Muito cedo percebi que amava música, e não gêneros. Gêneros podem ser divertidos. Por exemplo: eu adoro o Pantera e o Sepultura, que são bandas de metal. Mas também os Chemical Brothers, e eles são eletrônicos. E Neil Young, que na maior parte da carreira foi um músico folk. Eu decidi me dedicar à música em geral, e não a um gênero específico.
Uma das músicas que você regravou foi Heroes, de David Bowie. Por que escolheu a canção? Acho Heroes uma das músicas mais especiais de todos os tempos. E, normalmente, eu não faria uma cover de uma peça musical tão perfeita. Mas havia aquele fato estranho de que David Bowie foi meu amigo e vizinho. E nós tivemos essa experiência única. Uma manhã, ele veio ao meu apartamento e me trouxe café. E nós sentamos no meu sofá e tocamos violão e interpretamos Heroes. Foi um dos momentos mais maravilhosos da minha vida. Então, realmente, a versão que está neste álbum é um tributo a isso. É um tributo à música.
Você diz que hoje dorme e acorda cedo e que sua vida é entediante. Não é uma contradição com sua vida nos palcos, com toda a agitação noctívaga inerente a ela? Eu adoro os shows. Quando você está no palco e há 50 000 pessoas em um estádio, e há aquela enorme produção, as luzes e os lasers e as explosões e as telas, é tão poderoso. Mas hoje minha maneira favorita de me apresentar ou tocar música ao vivo é simplesmente sentar no meu quintal e tocar covers do Led Zeppelin no violão com amigos. Eu prefiro ir para a casa de um amigo e sentar no quintal e tocar violão.