Com exceção do diretor da Agência de Vigilância Sanitária (ANVISA), almirante Antônio Barra Torres, todos os integrantes do governo, ou apoiadores, que depuseram na CPI da Pandemia, mentiram – e alguns mentiram descaradamente.
Mas, nenhum dos mentirosos foi mais autêntico que o empresário Luciano Hang, dono da rede de lojas Havan, que sem nenhum constrangimento apelou de viva voz para o senador governista Jorginho Mello, para que não lhe deixasse mentir sozinho.
–Jorginho, não me deixe mentir sozinho! -, implorou o empresário, ao ser confrontado com as provas das mentiras pela senadora Eliziane Gama.
Com as digitais do governo Jair Bolsonaro nos atestados de óbitos de pelo menos a metade das quase 600 mil pessoas mortas pela pandemia do covid, a participação do “véio da Havan“, como o empresário é conhecido, foi o momento mais grotesco da CPI, porque ele foi confrontado com a falsificação do atestado de óbito da própria mãe, e não conseguiu se explicar.
Hang colocou a culpa no médico plantonista no hospital do plano de saúde Prevent Senior, mas não soube dizer o nome do médico. O fato é que a mãe do empresário, submetida ao tratamento precoce, que é ineficaz para covid, veio a falecer e no atestado de óbito constou como motivo da morte outra doença.
Candidato a senador pelo Paraná, na eleição do ano que vem, Hang atuou no chamado “gabinete paralelo”, composto por médicos, empresários e até pastores evangélicos negacionistas, que disseminaram notícias falsas sobre a pandemia e ocultaram o número real de mortes.
Ele será citado no relatório da CPI, que está sendo elaborado pelo senador Renan Calheiros, mas já é investigado no inquérito aberto pelo Supremo Tribunal Federal e que investiga a divulgação de fake news através do “gabinete paralelo”, instalado no Palácio do Planalto, e em portais financiados por suas empresas.
Sim, o apelo para o senador Jorginho Mello não deixá-lo mentir sozinho foi em vão, porque mentir é uma arte, mas, se e somente se o mentiroso não poder ser confrontado ato contínuo com a mentira.
E esse não foi o caso do “veio da Havan“.
Hang, “O Veio da Havan”, faz de CPI palco de programa de auditório
– Críticos observaram que o empresário bolsonarista Luciano Hang, dono da rede de lojas Havan, usa a CPI da Covid-19 como palco de programa de auditório. Sem ofensa à memória de Chacrinha, bem-sucedido apresentador de programas de televisão à sua época, o show de Hang ainda em curso se assemelha ao espetáculo do velho palhaço.