Vazamento de atos de Moraes nos EUA ‘usa o exterior para reforçar mensagem doméstica’, diz analista

O diretor da Eurasiagroup nas Américas, Christopher Garman, avalia que os republicanos enxergaram na disputa entre Moraes e o bilionário Elon Musk a oportunidade de transmitir aos eleitores conservadores a mensagem de que o Brasil sofre com censura judicial e que o mesmo ocorre nos EUA.

Decisões de Moraes no Brasil são usadas por deputados republicanos para disputa local nos Estados Unidos Foto: Wilton Junior/Estadão

BRASÍLIA – A divulgação de decisões sigilosas do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes pela ala do partido Republicano na Comissão de Justiça da Câmara dos Estados Unidos (EUA) ocorreu sob o questionamento de qual seria a motivação de deputados norte-americanos ao desafiar uma instituição brasileira. O diretor da Eurasiagroup nas Américas, Christopher Garman, avalia que os republicanos enxergaram na disputa entre Moraes e o bilionário Elon Musk a oportunidade de transmitir aos eleitores conservadores a mensagem de que o Brasil sofre com censura judicial e que o mesmo ocorre nos EUA.

TNM/História de Weslley Galzo

“É usar o exterior para reforçar uma mensagem doméstica”, resumiu Garman em conversa com o Estadão. “É a seguinte ideia: ‘Veja como os progressistas agem politicamente para encaminhar censura’”, explicou. “Isso está acontecendo nos Estados Unidos. É isso que eles estão dizendo”, completou.

Decisões de Moraes no Brasil são usadas por deputados republicanos para disputa local nos Estados Unidos Foto: Wilton Junior/Estadão© Fornecido por Estadão

As decisões vazadas vieram acompanhadas de um relatório elaborado pela ala republicana da Comissão de Justiça, cujo argumento principal é de que o caso “expõe a campanha de censura do Brasil e apresenta um estudo de caso surpreendente de como um governo pode justificar a censura em nome do combate ao chamado ‘discurso de ódio’ e à ‘subversão’ da ‘ordem’”.

Garman avalia que o ambiente político no Brasil é “muito semelhante” ao dos EUA, onde setores progressistas e conservadores enxergam seus adversários como ameaças à democracia. Se para os políticos brasileiros de esquerda o risco reside na possibilidade de o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados retornarem ao governo, para os grupos de direita “o vilão da democracia se encontra no Supremo Tribunal Federal e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) restringindo a liberdade de expressão”.

“Dado o paralelo do que acontece nos Estados Unidos (e no Brasil), é útil para os deputados republicanos estarem com essa linha de argumentação e tem algum elo dos aliados de Bolsonaro com os conservadores do partido Republicano”, avaliou.

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