Posse ‘secreta’ de ministra tem a presença de Valdemar Costa Neto, ex-deputado condenado no mensalão

A oficialização da entrada do Centrão no "coração" do governo, com a posse da ministra Flávia Arruda (PL-DF) na Secretaria de Governo (Segov), contou com a presença de um novo aliado do Palácio do Planalto

Posse da ministra Flávia Arruda no Palácio do Planalto © Reprodução/Twitter Ricardo Barros Posse da ministra Flávia Arruda no Palácio do Planalto

TNM/Por Lauriberto Pompeu e Emilly Behnke

O ex-deputado foi condenado, em 2012, pelo envolvimento no esquema do mensalão durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Mesmo com a decisão de última hora do governo de tornar o evento “secreto”, sem a presença de jornalistas e tampouco transmissão online, a presença de Valdemar foi registrada pelo líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (Progressistas-PR), que compartilhou uma imagem da solenidade em seu Twitter

Flávia Arruda será responsável pela articulação entre Planalto e Congresso, o que inclui a negociação de liberação de verbas via emendas parlamentares e indicações políticas para cargos no governo. Sua escolha é creditada aos partidos do Centrão, grupo marcado pelo fisiologismo, a troca de cargos no governo por apoio no Congresso.

Além do presidente do PL, Bolsonaro tem como um dos principais aliados outro condenado no mensalão: o também ex-deputado Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB. Foi uma entrevista de Jefferson em 2005, na qual denunciou a compra de apoio político pelo então aliado governo Lula, que desencadeou as investigações do caso de corrupção. Tanto PTB quanto PL fizeram parte das gestões petistas, comandando ministérios e órgãos importantes na administração pública.

A aproximação de Bolsonaro com o Centrão ocorre desde o ano passado, após o presidente sofrer sucessivas derrotas no Congresso e se ver ameaçado por um processo de impeachment. Desde então, passou a entregar cargos no segundo e terceiro escalão do governo a nomes indicados grupo. Agora, com Arruda na Secretaria de Governo, já são dois os ministérios entregues ao grupo política – João Roma (Republicanos), no Cidadania, é o segundo.

A aliança com o Centrão contraria o discurso de campanha do presidente. Por diversas ocasiões, ele afirmou que não “lotearia” o governo em troca de apoio político e que não negociaria ministérios com partidos. Em um evento do PSL em julho de 2018, um dos principais auxiliares de Bolsonaro, o general Augusto Heleno, chegou a ironizar o grupo político parodiando uma canção popular. “Se gritar pega centrão, não fica um meu irmão”, cantarolou o militar, hoje ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

Também participaram da posse da Flávia Arruda outros parlamentares, como o presidente do Progressistas, senador Ciro Nogueira (PI), o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE) e o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho mais velho do presidente.

Durante seu discurso no evento, a nova ministra citou a necessidade de uma “engenharia política” que garanta governabilidade ao Executivo. “A democracia contemporânea exige uma engenharia política baseada numa coalizão parlamentar que permita a governabilidade do Executivo. Todos nós estamos diante de um enorme desafio”, afirmou ela, agradecendo de forma “muito especial e carinhosa” o presidente do seu partido.

Valdemar passou os últimos anos afastado formalmente do comando do PL. No entanto, ele sempre exerceu influência sobre a legenda. O ex-deputado reassumiu a presidência da sigla no começo de março. Na semana passada, após a definição de Arruda no comando da Secretaria de Governo, Costa Neto esteve presente em um café com Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto.

Nesta manhã, foram realizadas as posses de sete ministros. A cerimônia foi fechada, sem a presença da imprensa e sem transmissão pelos canais oficiais. Horas após o evento, o Palácio do Planalto divulgou uma série de vídeos com os discursos feitos na solenidade.

Três dos ministros empossados hoje, contudo, já haviam assinado os termos de posse em cerimônias reservadas no gabinete do presidente e já estavam exercendo o cargo — Anderson Torres (Justiça), André Mendonça (AGU) e Marcelo Queiroga (Saúde). As posses “secretas” não foram abertas à imprensa e nem transmitidas pelos canais oficiais de comunicação do governo. Os atos tampouco constaram na agenda oficial do presidente para o dia. Como mostrou o Estadãoem um ano de pandemia, Bolsonaro promoveu mais de 40 eventos com aglomerações no Palácio do Planalto. De posse de ministros até o lançamento de um selo postal comemorativo em homenagem aos 54 anos da Embratur, as solenidades reuniram centenas de convidados, contrariando o isolamento, uma das ações mais eficazes para conter a propagação do vírus, de acordo com organismos de saúde.

Militares. Na cerimônia desta terça, foram oficializadas também as mudanças de pastas de ministros militares após Bolsonaro demitir Fernando Azevedo e Silva da Defesa. O ministério agora é comandado pelo general Walter Braga Netto, que para isso deixou a chefia da Casa Civil. Em seu lugar, assumiu Luiz Eduardo Ramos, até então responsável pela Segov. Carlos França, que substitui Ernesto Araújo no Ministério das Relações Exteriores, completa o grupo de novos ministros empossados nesta terça.

Ao dar posse a Ramos, seu amigo desde a época em que era cadete do Exército, Bolsonaro afirmou considerar a “confiança nas pessoas” para montar sua equipe no governo. Ramos foi um dos auxiliares que mais influenciou as trocas ministeriais anunciadas na semana passada.

“Não tem uma escola para ser presidente ou para ser ministro”, disse Bolsonaro, segundo discurso divulgado pelo Planalto horas após o evento. O presidente destacou ter aprendido em sua formação militar que “pior que uma decisão mal tomada, é uma indecisão” e que muitas vezes “decisões difíceis” são tomadas.

“Agora, aprendi também depois da terceira idade, que o currículo é muito importante. Mas tem algo que é muito, muito mais importante que o currículo, é a confiança nas pessoas. E assim nós devemos montar a equipe que se propõe, se voluntaria a estar conosco, em especial nos momentos difíceis”, afirmou.

Em sua fala, Bolsonaro também elogiou o general Braga Netto. O general assumiu a Defesa após divergências do presidente com o então ministro, Azevedo e Silva, que rejeitou tentativas de politizar as Forças Armadas. A troca na pasta foi seguida da demissão dos s comandantes do Exército, Aeronáutica e Marinha.

“Nós aprendemos na academia a guerra convencional, muito pouco sobre a guerrilha. E a guerrilha a gente não sabe onde está o inimigo. Muitas vezes está ao nosso lado, mas nós vamos cada vez mais, buscando maneiras de enfrentar também a esse inimigo. Porque o que interessa para todos nós, é proporcionar dias melhores ao povo brasileiro”, disse.

De acordo com o Ministério da Defesa, participaram da cerimônia de hoje no Planalto o chefe do Estado Maior Conjunto das Forças Armadas, tenente-brigadeiro do ar Raul Botelho e os novos comandantes anunciados almirante Almir Garnier, da Marinha, general Paulo Sérgio Oliveira, do Exército, tenente-brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista Junior, da Aeronáutica, além de “demais autoridades civis e militares”.

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