Milton Hênio anuncia aposentadoria e recebe homenagens

Dr. Milton Hênio atendendo

Pediatra é membro do conselho estratégico da Organização Arnon de Mello e decidiu se aposentar com quase 60 anos de carreira

O pediatra alagoano entrou na Gazeta a convite de Arnon de Mello e começou a escrever artigos semanais. Em nome da Sociedade Alagoana de Medicina, Milton convidou Arnon para dar palestras. Desde então, ele permaneceu na Gazeta de Alagoas por todos os laços de afeto criados. Milton ainda foi convidado pelo senador Fernando Collor para fazer parte do Conselho Estratégico da Organização Arnon de Mello, posição que ocupa até hoje. Apesar de ter fechado o consultório, ele se dispõe a realizar orientações pelo telefone de cerca de 15 a 20 pessoas diariamente.

Na época de estudante, ele saía de manhã em uma ambulância sem ter chamado nenhum, com propósito único de atender pessoas que estavam nas ruas. Ele é um dos criadores da Apae e passou 30 anos atendendo sem ganhar nada além de gratidão, além de ter atendido diversas crianças com lesões cerebrais. “Naquele tempo não tinha SUS [Sistema Único de Saúde], a gente tratava era os indigentes, que era quem não tinha plano de saúde”, relembrou Milton Hênio, que se formou em 15 de novembro de 1962.

Sua neta, Larissa Gouveia, e também sua sucessora na medicina pediátrica, prestou homenagem ao avô nas redes sociais, citando o avô pelos 58 anos de contribuição à sociedade alagoana

Eduarda Lessa confiou a Milton os cuidados de sua filha

“O Dr. Milton Hênio sempre foi muito atencioso e me encantou com a delicadeza que ele tratou todas as crianças que presenciei. Quando mais nova, foi meu pediatra por um tempo e, apesar de não recordar muito bem pela pouca idade que eu tinha, minha mãe gostava tanto dele que, quando eu tive uma filha, eu fiz questão de passar pela avaliação dele. Dr Milton me ajudou a enxergar um problema que minha filha tinha e que outros pediatras passavam despercebidos. Minha eterna gratidão a esse grande pediatra!”, relatou a estudante de Contabilidade.

Em entrevista cedida à Gazetaweb, Milton Hênio contou um pouco como tomou a decisão da aposentadoria, falou sobre alguns casos durante esse tempo de profissão, sobre a influência na carreira da neta e mais. Acompanhe:

– Como surgiu a decisão da aposentadoria? Ela perdurou por muito tempo até ser concretizada?

Não pretendia me aposentar agora, pretendia chegar aos 60 anos de carreira. Mas certa vez uma senhora com sintomas de Covid-19 foi ao consultório e pouco tempo depois testou positivo. Fechei o consultório por medo de contato e ser integrante do grupo de risco.

Essa pandemia é conduzida por satanás. Na área médica, eu nunca vi um vírus com tanta agressividade e violência como esse novo coronavírus. Eu tô há quase 60 anos na medicina e nunca vi nada assim.

Sigo gostando demais da profissão e ficando feliz por ajudar e curar tanta gente, fazendo eles ficarem felizes. Procuro ajudar as pessoas justamente por isso. Existe remédio que nenhuma farmácia vende, que é a felicidade.

Existe algum caso em específico que o senhor se recorda caso perguntem sobre algum caso que marcou sua vida?

Os casos que marcaram minha vida do ponto de vista médico foram vários, mas principalmente de meninos que saíram de traumas cranianos que achei fossem morrer e melhoraram. Também meninos que saíram de quadros graves de meningite, que também achei que iam morrer e melhoraram.

Ao longo desses quase 60 anos de carreira, qual a maior lição que o senhor tirou de tudo isso?

Eu sempre procurei ser feliz fazendo os outros felizes. Um médico levar a felicidade pras pessoas leva só alguns segundos, mas a pessoa esperou esse sorriso por meses. Minha maior lição é essa, felicidade é a chave de tudo. Ser feliz e fazer os outros felizes.

O senhor acredita ter sido uma influência para a escolha de carreira da sua neta, dra. Larissa Gouveia?

Eu a ajudei demais. Graças a deus ela tem um temperamento pra isso. Ela conviveu comigo por quatro anos no consultório, aprendendo a atuar de forma parecida. Simpática, alegre, procurando sorrir e levando felicidade sempre. Agradeço a deus todo dia por ela ser minha sucessora.

Na homenagem que sua neta postou no Instagram, falava sobre a missão do senhor estar cumprida. O senhor tem essa sensação, tendo em vista que o afastamento se deu devido à pandemia? Ou sente que ainda deixou algo a ser feito, apesar deste legado tão extenso?

Eu cumpri em partes. Fechei meu consultório, mas sigo atendendo as pessoas em casa através do telefone. Queria muito levar mais pra frente porque me sinto muito bem fisicamente, mentalmente, e me sinto muito apto a me comunicar com todos os pacientes. Então sinto que cumpri sim, mas em partes.

Ao longo dos muitos anos de carreira, acredito que o senhor já esteve em contato com inúmeros profissionais da medicina. Existe algum grande laço afetivo que o senhor teve graças ao trabalho?

Desde os antigos até os mais recentes, considero todos os colegas que já trabalhei como amigos. Sempre desenvolvi laços de afeto com todos ao redor do Brasil e até de fora. Gente da academia brasileira e da academia americana de medicina, reitores e vice-reitores de universidades. Sempre procurei entrelaçar todos pelas relações.

Devido ao cuidado, excelente profissionalismo, desenvolveu alguma amizade com paciente?

80% dos meus compadres foram arranjados assim. Tenho cerca de 820 afilhados em Maceió. Os pais de várias crianças atendidas pediam ao doutor para ser padrinho dos filhos. Policiais, lojistas, metalúrgicos, servidores públicos. Todas essas amizades começaram por conta de atendimentos médicos.

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