Torres estava em São Paulo e ligou para Moraes pedindo para recebê-lo, no que foi atendido. Além de tentar defender a si mesmo, o ministro da Justiça atuou como emissário oficial do presidente, reforçando o pedido de desculpa de Bolsonaro, pelos ataques durante a manifestação no dia 7 de setembro. Naquele dia, Bolsonaro chamou Moraes de ‘canalha’ e disse que não iria obedecer ordens do ministro.
Disse isso, mas se arrependeu; se retratou, pediu desculpa e justificou que estava com “a cabeça quente”. Para tentar se reaproximar de Moraes, o presidente apelou para o ex-presidente Michel Temer, que fez a ponte para a reaproximação, mas Bolsonaro não se tranquilizou com a conversa telefônica, achando que Moraes continua irredutível.
Para conversar com o presidente, o ministro do Supremo exigiu duas coisas: que Bolsonaro publicasse a nota de retratação e que a conversa telefônica intermediada por Temer fosse no viva voz. Bolsonaro concordou, pediu desculpas a Moraes, o ministro aceitou, mas deixou claro que caso a Polícia Federal ou Ministério Publico Federal fundamente suas denúncia ele agirá rigorosamente dentro da lei.
Trocando em miúdos: se as investigações concluírem que houve crimes, independente de quem seja, ele decidirá “rigorosamente de acordo com a lei”, ou seja, autorizará o pedido de prisão, como tem feito até agora em relação a todos os denunciados, independente do cargo que exerce.
A postura de Moraes acendeu o sinal de alerta no Palácio do Planalto, com o temor de que as suas decisões acabem atingindo os filhos do presidente, principalmente o vereador Carlos Bolsonaro e o deputado federal Eduardo Bolsonaro, os dois mais envolvidos diretamente na divulgação de fake news.
Cabe lembrar que os ataques de Bolsonaro a Moraes são antigos; quando o ministro impediu a posse de Alexandre Ramagem como ministro da Justiça, o presidente disse que ‘quase não cumpriu a decisão’ e ameaçou não cumprir outras decisões do Supremo, chegando a gritar “acabou, porra!”, na tentativa de intimidar o ministro.
Na conversa com o ministro da Justiça enviado de Bolsonaro se tentou passar a limpo esses atritos, mas Moraes se manteve firme, avisando que “agirá rigorosamente dentro da lei”. Ou seja, se as investigações concluírem pela culpa dos investigados, sejam eles quem forem, e se houver o pedido de prisão ele decreta independente de quem seja, se o filho ou o amigo do presidente.
Cabe lembrar que esse é o grande temor de Bolsonaro; na reunião ministerial em abril do ano passado, cujo teor discutido se tornou publico por determinação do então ministro do Supremo, Celso de Mello, o presidente disse que ‘não iria esperar foderem um filho dele, ou um amigo dele’, para trocar o comando da Polícia Federal.
Trocou, é verdade; mas Moraes impediu que trocasse também os seis delegados que atuam em conjunto com o Supremo no inquérito que apura os atos antidemocráticos, ataques às instituições e disseminação de fake news.