Irredutível, Moraes não cede e deixa Bolsonaro preocupado

A postura de Moraes acendeu o sinal de alerta no Palácio do Planalto, com o temor de que as suas decisões acabem atingindo os filhos do presidente, principalmente o vereador Carlos Bolsonaro e o deputado federal Eduardo Bolsonaro, os dois mais envolvidos diretamente na divulgação de fake news.
Investigado por ter participado da “live” do presidente Jair Bolsonaro, que divulgou notícias falsas sobre as urnas eletrônicas e ataques a ministros do Supremo Tribunal Federal, o ministro da Justiça, Anderson Torres, se encontrou com o ministro Alexandre de Moraes, um dos atacados pelo presidente, para tentar se explicar fora dos autos.

Torres estava em São Paulo e ligou para Moraes pedindo para recebê-lo, no que foi atendido. Além de tentar defender a si mesmo, o ministro da Justiça atuou como emissário oficial do presidente, reforçando o pedido de desculpa de Bolsonaro, pelos ataques durante a manifestação no dia 7 de setembro. Naquele dia, Bolsonaro chamou Moraes de ‘canalha’ e disse que não iria obedecer ordens do ministro.

Disse isso, mas se arrependeu; se retratou, pediu desculpa e justificou que estava com “a cabeça quente”. Para tentar se reaproximar de Moraes, o presidente apelou para o ex-presidente Michel Temerque fez a ponte para a reaproximação, mas Bolsonaro não se tranquilizou com a conversa telefônica, achando que Moraes continua irredutível.

Para conversar com o presidente, o ministro do Supremo exigiu duas coisas: que Bolsonaro publicasse a nota de retratação e que a conversa telefônica intermediada por Temer fosse no viva voz. Bolsonaro concordou, pediu desculpas a Moraes, o ministro aceitou, mas deixou claro que caso a Polícia Federal ou Ministério Publico Federal fundamente suas denúncia ele agirá rigorosamente dentro da lei.

Trocando em miúdos: se as investigações concluírem que houve crimes, independente de quem seja, ele decidirá “rigorosamente de acordo com a lei”, ou seja, autorizará o pedido de prisão, como tem feito até agora em relação a todos os denunciados, independente do cargo que exerce.

A postura de Moraes acendeu o sinal de alerta no Palácio do Planalto, com o temor de que as suas decisões acabem atingindo os filhos do presidente, principalmente o vereador Carlos Bolsonaro e o deputado federal Eduardo Bolsonaro, os dois mais envolvidos diretamente na divulgação de fake news.

Cabe lembrar que os ataques de Bolsonaro  a Moraes são antigos; quando o ministro impediu a posse de Alexandre Ramagem como ministro da Justiça, o presidente disse que ‘quase não cumpriu a decisão’ e ameaçou não cumprir outras decisões do Supremo, chegando a gritar “acabou, porra!”, na tentativa de intimidar o ministro.

Na conversa com o ministro da Justiça enviado de Bolsonaro se tentou passar a limpo esses atritos, mas Moraes se manteve firme, avisando que “agirá rigorosamente dentro da lei”. Ou seja, se as investigações concluírem pela culpa dos investigados, sejam eles quem forem, e se houver o pedido de prisão ele decreta independente de quem seja, se o filho ou o amigo do presidente.

Cabe lembrar que esse é o grande temor de Bolsonaro; na reunião ministerial em abril do ano passado, cujo teor discutido se tornou publico por determinação do então ministro do Supremo, Celso de Mello, o presidente disse que ‘não iria esperar foderem um filho dele, ou um amigo dele’, para trocar o comando da Polícia Federal.

Trocou, é verdade; mas Moraes impediu que trocasse também os seis delegados que atuam em conjunto com o Supremo no inquérito que apura os atos antidemocráticos, ataques às instituições e disseminação de fake news.

 

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